Aprendizagem criativa: como adultos e crianças devem aprender sem medo de errar
A aprendizagem criativa pode ajudar nos seus projetos e no seu desenvolvimento pessoal
Pense no último projeto que você concluiu. Por quais caminhos você percorreu até chegar à solução? Buscar opções que ninguém pensou antes é ter domínio da sua criatividade. Isso traz algo mágico: inovação.
Na escola, desde o jardim de infância somos incentivados a exercer a criatividade. Agora, o quanto somos estimulados a aprender de forma autêntica, sem repetições de padrões? Já parou pra pensar nisso?
De acordo com uma pesquisa realizada pela Creative Education Foundation, em Nova Iorque (1999), as crianças usam cerca de 98% da capacidade criativa, enquanto adultos, acima de 30 anos, costumam usar apenas 2%. A diminuição está relacionada, principalmente, aos bloqueios emocionais e ao medo de se expor.
No entanto, a criatividade é uma das habilidades mais requeridas no mercado de trabalho, de acordo com o relatório anual "The future of Jobs", feito pelo Fórum Econômico Mundial (2020). Profissionais que conseguem desenvolver essa habilidade estão mais propensos à inovação, além de terem mais facilidade para resolver problemas complexos, que permeiam diversas áreas de conhecimento, visto que, com a criatividade, buscam formas diferentes de solucionar a questão.
Habilidades como a criatividade são tão importantes no mercado de trabalho atual (e futuro), porque as relações estão cada vez mais dinâmicas, ágeis e imprevisíveis. Sim, vivemos o mundo VUCA. E ele é desafiador.
VUCA (acrônimo em inglês para Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade) é um termo cunhado na década de 90 por estrategistas de guerra americanos para designar momentos em que a vulnerabilidade seria alta e as decisões deveriam ser muito rápidas, dinâmicas e passíveis de mudanças bruscas. Lembra algum cenário para você?
Principalmente quando se fala em educação, o mundo virou mesmo de cabeça pra baixo depois do período de isolamento pela pandemia da COVID19. E, entre protocolos, salas de aula online, intermináveis reuniões em frente ao computador, os profissionais criativos, que conseguem inovar e avançar rapidamente com ideias, passaram a ser mais requeridos.
Agora, ser criativo não é simplesmente ter uma boa ideia, muito menos um dom inato. Pelo contrário: é preciso ter a consciência de que a criatividade é um processo, um caminho de aprendizado que precisa ser nutrido, e que aliado às técnicas e exercícios levam aos resultados.
Mas, como é possível tornar-se mais criativo? Vamos te dar algumas dicas para colocar toda a sua imaginação e criatividade em prática, começando por entender de uma vez por todas: aprender de forma criativa amplia todos os seus horizontes.
Afinal, o que é aprendizagem criativa?
A aprendizagem criativa é um conceito baseado em projetos do educador e matemático Seymour Papert e aprimorado pelo grupo de pesquisa MIT Lifelong Kindergarten, com o líder Mitchel Resnick.
Segundo Mitchel, a criatividade não está restrita somente à expressão artística: todos podem desenvolvê-la pessoal e profissionalmente. Um professor, por exemplo, pode ser criativo ao desenvolver exercícios e atividades que estimulem os alunos de uma forma que nunca havia sido sugerida antes.
O potencial criativo de cada um deve ser incentivado e nutrido. Quanto mais se estimula o processo de criação, mais o repertório aumenta e as inovações vão aparecendo de maneira fluida.
O grupo de pesquisa MIT Lifelong Kindergarten também desenvolve projetos tendo em mente que o processo educacional e criativo não funciona de forma linear, e sim segue uma espiral em que os passos que percorremos ajudam a desenvolver a capacidade de criar e aprofundar as ideias.
As metodologias ativas, tão em alta depois das mudanças de paradigma da educação, estão no centro dessa forma de aprender. Isso porque nesse processo é muito importante que o centro seja o aprendiz/aluno.
Imaginar, construir, brincar, compartilhar e refletir sobre o produto criado e o processo percorrido são passos da aprendizagem criativa que dizem: quem está criando é quem vai guiar o caminho.
Quando falamos em aprendizagem criativa, estamos falando em desafiar o poder criador que temos dentro de nós. Para isso, é preciso que:
- A imaginação seja estimulada: crianças têm a imaginação solta, sem muitas amarras. Mas, a partir de determinado momento, quando começam a ter visões de mundo muito próprias, acabam sendo tolhidas. É aí que a criatividade tende a declinar, ou melhor, ficar escondida.
- Mundos sejam construídos: no lugar de temer o futuro, seja o futuro. Um dos grandes trunfos da aprendizagem criativa é o estímulo à inovação e criação de produtos e universos nunca antes imaginados. E para isso é preciso errar. Erro e acerto são os tijolos e o cimento da construção da criatividade.
- A brincadeira esteja presente: brincar não é só coisa de criança. Conforme crescemos, somos estimulados a racionalizar as ações, sem deixar com que a leveza da brincadeira esteja presente. É importante que além de botar a mão na massa, esse processo seja leve, brincalhão, divertido e estimulante.
- Ideias sejam compartilhadas: após a criação, é importante dividir, entender o olhar do outro, para que seja possível reavaliar o produto.
- A reflexão feche e reabra um ciclo: como parte final do processo criativo, cabe a reflexão sobre o que foi criado, na busca de ir além. Será que o que criei funciona o suficiente? Será que posso melhorar?
A espiral da aprendizagem criativa é o motor do pensamento criativo. Ela propõem um processo de exploração, em que cada etapa demonstra um diferente nível de compreensão. Dessa forma, é possível aprender e se desenvolver.
O ponto mais da espiral é como ela descreve um processo em que um vestígio de ideia inacabada pode se tornar um projeto viável à medida que a espiral é percorrida inúmeras vezes. Segundo Mitchel Resnick, "À medida que as pessoas percorrem a espiral, elas desenvolvem e refinam suas habilidades como pensadoras criativas, aprendem a desenvolver suas próprias ideias, testá-las, experimentar alternativas, obter opiniões de outras pessoas e criar ideias baseadas em suas experiências".
Para as crianças, o processo da espiral pode ser implementado desde a escola, através de atividades estruturadas pelos professores, baseadas na Aprendizagem Criativa. Já que as crianças exploram naturalmente o mundo de diversas formas e são estimuladas, inclusive artisticamente, a fazê-lo.
De acordo com Resnick, "brincar tem sido parte integrante da abordagem tradicional do jardim de infância para a aprendizagem, e a maioria dos adultos reconhecem a importância de proporcionar às crianças a oportunidade de brincar." Mas a aprendizagem criativa e o processo da espiral não são aplicados somente em crianças. Por incrível que pareça, adultos de todas as idades podem se valer da metodologia que ajuda no processo de criação e no desenvolvimento da criatividade.
É possível implementar, desenvolver atividades e promover a aprendizagem criativa em diversos momentos: na faculdade para melhorar os projetos; no trabalho, para se tornar um profissional que tenha mais resultados e promova a inovação; na vida pessoal, ajudando a resolver desafios do dia a dia com mais facilidade.
Os 4 P's da Aprendizagem Criativa
Você se lembra de algo que gostou muito de fazer, seja na vida pessoal, escolar ou profissional? E o resultado desse processo? Foi satisfatório, não foi?
Por meio da aprendizagem criativa, fica claro: quando criamos algo com que nos identificamos, que seja relevante para nós, o processo acontece de forma mais natural, divertida e inovadora.
Os 4 Ps da aprendizagem criativa nos ajuda a entender isso. São eles: projetos, paixão, pares e pensar brincando.
- P de Projetos: as pessoas tendem a aprender melhor quando trabalham em projetos que tenham relevância para si, seja gerando ideias, desenvolvendo ou refinando os resultados. De acordo com Mitchel Resnick, "nesse processo, eles se desenvolvem como pensadores criativos".
- P de Paixão: quando trabalhamos em projetos com os quais nos importamos, geralmente trabalhamos por mais tempo, com mais atenção e esforço. Além de aprendermos mais no processo e enfrentarmos desafios com mais dedicação.
- P de Pares: a aprendizagem ocorre com mais facilidade quando é feita em grupo. Compartilhar pontos de vista, colaborar com o trabalho dos parceiros e gerar interatividade ajuda a promover ideias. É o que afirma Resnick quando diz "Acreditamos, desde o princípio, que a interação com colegas deve ser um elemento central no processo de aprendizagem."
- P de Pensar brincando: usar experiências divertidas como testar coisas novas, experimentar materiais desconhecidos e assumir riscos geram ideias mais inovadoras e deixam os participantes mais envolvidos.
De acordo com Mitchel Resnick, o ato de brincar e de explorar livremente é um processo de experimentação e exploração, e esses aspectos são fundamentais para a aprendizagem criativa.
Quando seguimos por esse caminho da espiral e dos 4 P's, nós exercitamos nossa capacidade de aprender e desenvolver projetos mais criativos. Muitas vezes aplicamos esses pontos em nossos projetos sem a consciência de estarmos fazendo, mas a partir de agora, você vai poder colocar em prática seguindo o modelo pensado da aprendizagem criativa.
Enxergue o erro como seu aliado
Você tem medo de errar? Pessoas que precisam da criatividade no trabalho devem entender: o erro é uma oportunidade de aprendizagem e não um inimigo. Pensar "fora da caixa" muitas vezes implica em fazer testes, tentar coisas novas, assumir riscos e ter consciência de que nem tudo que planejamos dá certo na execução.
A boa notícia é que o erro é parte do processo criativo! A resolução de problemas e a inovação são conceitos que vêm a partir de obstáculos a serem superados. Por isso, quando o erro acontecer, lembre-se de aplicar esses pontos para solucioná-lo da melhor forma possível:
- Buscar referências: perceba como outras pessoas resolveram problemas parecidos com o seu mas não prenda a essas soluções. Foque no seu contexto e no seu caminho.
- Deixar o erro aparente para você mesmo: ele vai dizer por onde você não deve passar de novo;
- Corrigir rápido: errar não é um problema, é a oportunidade para você exercitar sua velocidade na busca de novas soluções
Dentro da aprendizagem criativa, o erro é parte do processo, não o fim do caminho.
Errar é normal, o importante é seguir em frente. Sem medo. E, se surgir o medo, pensar naquele velho conselho "vai com medo mesmo". Devemos aprender com o erro e fazer dele uma possibilidade de inovação e soluções criativas.
Como posso aumentar a minha criatividade?
Agora que você já conhece a aprendizagem criativa, já sabe os conceitos e como aplicar, que tal pensar em um projeto e começar a colocar a sua criatividade em ação? Antes, confira algumas dicas para começar a desenvolver o seu poder de criação no dia a dia.
- Esteja aberto a novas possibilidades, expanda seus horizontes, viaje (pode ser dentro de casa mesmo, leia um livro, ouça suas músicas preferidas)
- Assuma os riscos e não tenha medo de errar;
- Tenha sempre papel e caneta em mãos - ou seu celular-, para anotar quando ideias surgirem;
- Tenha atividades offline, leia um livro, desenhe, ouça música, passeie;
- Saia da rotina: busque novas rotas, mude o trajeto para casa, leia livros de temas diferentes na sua área, ouça novos estilos musicais.
- Descanse! O tempo de ócio é fundamental para aumentar a criatividade.
A criatividade permite que problemas sejam analisados por diferentes ângulos e para que haja soluções além das comuns. Por aqui, estamos sempre em busca de enxergar o mundo por meio de novas possibilidades, de forma mais criativa. Por isso, nossos cursos têm esse princípio.
E então? Vamos exercitar o maior poder de todos que você tem, o poder da criação?